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Discurso institucional: relações de saber/poder no construto identitário do Técnico em Secretaria Escolar diplomado pelo Programa Profuncionário
Maria Aparecida da Silva Santandel

Última alteração: 16-12-2020

Resumo


O propósito deste artigo é refletir sobre o discurso institucional (DI) presente no Projeto do Curso Técnico em Secretaria Escolar, elaborado pelo Programa Profuncionário como norteador para o fomento das relações de saber/poder que corroboram a manutenção da identidade periférica dos concluintes, atuais técnicos. Assumo a hipótese de que tal discurso, utilizando-se de mecanismos da biopolítica e da governamentalidade, aliados à dinamização das tecnologias do século XXI, consolida a representação e o construto identitário do Técnico em Secretaria Escolar (TSE), como sujeito da (in)completude, do entre-lugar, do sujeito in(ser)ido dentro do espaço escolar, movendo-o para diferentes representações conforme necessidade própria do capitalismo atual. Utilizo o método arqueogenealógico, cuja epistemologia crítica se pauta nas contribuições advindas de estudos culturalistas e conceituais latino-americanos, com foco descolonial, fronteiriço, conforme Nolasco (2016) e Mignolo (2003, 2010), deslocando os efeitos de sentido para a perspectiva do sujeito pertencente ao entre-lugar. Ancoro-me nas pesquisas de Foucault (1992, 2008), Coracini (2007) e Guerra (2015), que consideram a subjetividade, o acontecimento, a memória, os interdiscursos e as relações de poder, bem como na problematização sobre a subalternidade (SPIVAK, 2010) como consequência das relações de saber/poder na supressão do equilíbrio identitário social. As conclusões parciais sinalizam, de forma geral, que o Estado enquanto gerenciador das políticas públicas não está fora do contexto eurocêntrico, positivista. Molda, por iniciativas ditas democráticas, as regras que diretamente sistematizam a forma de ser e agir do sujeito TSE. Diante do cenário educacional do século XXI, o DI funciona como alicerce estrutural para a melhoria dos resultados no sistema estadual educacional, consolidando, assim, a representação e o construto identitário do sujeito TSE como sujeito da (in)completude, do entre-lugar. Firma-se, no espaço considerado de gestão democrática e participativa, o sujeito in(ser)ido que depende da alteridade para se (re)inventar enquanto técnico.



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