Tupã - Sistema Online de Apoio a Eventos do CLAEC, Latinidades - Fórum Latino-Americano de Estudos Fronteiriços

Tamanho da fonte: 
Afetos interditos: racismo e literatura na construção do amor e da família
Mariana Santos de Assis

Última alteração: 16-12-2020

Resumo


Historicamente a literatura sempre teve um papel determinante não apenas para registrar práticas sociais, mas também para consolidar ideologias e criar possibilidades de interação e práticas sociais. O amor tem sido tema recorrente nas mais diversas correntes literárias e suas diferentes representações nas obras literárias têm influenciado as práticas amorosas em todo o mundo. Diante disso, tentaremos aqui mostrar um pouco dessa importância, apontando algumas questões decorrentes, principalmente, do racismo presente nas produções literárias brasileiras ao longo da história e as consequências disso para reforçar o imaginário racista da sociedade, sobretudo no que se refere às construções familiares e relações afetivas entre pessoas negras. No entanto, o ponto principal do trabalho é mostrar as estratégias adotadas pelo povo negro para (re)inventar um amor nascido das cinzas da segregação e do preconceito. A literatura negra e negroperiférica é a maior prova da potência das redes afetivas e familiares criadas pela população negra, a despeito dos ataques dos séculos de escravidão e ódio brancos. No presente artigo, mostraremos um pouco das contribuições da literatura hegemônica para a consolidação do racismo como base da nossa sociedade, destacando aquele que talvez seja seu aspecto mais assustador, a saber a tentativa de desumanização e extermínio por meio do apagamento de qualquer presença negra afetiva e familiar em nossa história literária, mas principalmente, mostraremos que a capacidade/necessidade de amar suplanta qualquer violência ou opressão.



Referências


CANDIDO, Antônio. O estudo analítico do poema. São Paulo: Humanitas Publicações /FFLCH-USP: 1996.

 

______. O direito à literatura. In: ______. Vários Escritos. São Paulo: Ouro sobre azul, 2004.

 

CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. 339p. Tese (Doutorado em Educação junto à área de Filosofia da Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

 

CASTILHO, Suely Dulce de. A representação do negro na literatura brasileira: novas perspectivas. Olhar de Professor, Paraná, n.1, v.7, p. 103-113, 2004.

 

DAMASCENO, Benedita Gouveia. Poesia negra no modernismo brasileiro. Campinas: Pontes Editores, 2003.

 

DEL PRIORE, Mary. História do amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2015.

 

DUARTE, Eduardo de Assis. Mulheres marcadas: literatura, gênero, etnicidade. Terra Roxa e Outras Terras – Revista de Estudos Literários. Londrina, v.17-A, p. 06-18 dez. 2009.

 

______. O negro na literatura brasileira. Navegações, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 146-153, jul./dez. 2013

 

EVARISTO, Conceição. Gênero e Etnia: uma escre(vivência) de dupla face. In: Seminário Nacional X Mulher e Literatura – I Seminário Internacional Mulher e Literatura, UFPB, 2003.

 

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

 

FREYRE, Gilberto. Poemas negros (Introdução). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.

 

______. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia

Patriarcal. 48. ed. São Paulo: Global, 2003.

 

GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. Barcelona: Editorial Sol90, 2004.

 

HOOKS, Bell. Salvation: black people and love. New York: Harper Collins, 2001.

 

______. Vivendo de amor. Tradução de Maísa Mendonça. Disponível em: https://www.geledes.org.br/vivendo-de-amor/. Acesso em: 10 out. 2020.

 

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Francisco Alves, 1960.

 

______. Casa de alvenaria: Diário de uma ex-favelada. São Paulo: Francisco Alves, 1961.

 

PROENÇA FILHO, Domício. A trajetória do negro na literatura brasileira. Estudos Avançados, v. 18, n. 50, 2004.

 

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco muito pelo contrário. In: NOVAES, Fernando A.; SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). Histórias da vida privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. v.4.

 

SCHWARTZ, Jorge. Negrismo e negritude. In: ______. Vanguardas latino-americanas: polêmicas, manifestos e textos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.

 

SILVA, Mário Augusto Medeiros da. A descoberta do insólito: Literatura Negra e Literatura Periférica no Brasil (1960-2000). Rio de Janeiro: Aeroplano, 2013.

 

SLENES, Robert W. Na senzala uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava. Campinas: Editora Unicamp, 2011.


Texto completo: PDF