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Dizer o indizível: os negros e a escravidão no discurso de viajantes argentinos ao Brasil
Lyanna Costa Carvalho

Última alteração: 16-12-2020

Resumo


Este trabalho discute as impressões do viajante argentino sobre a presença do negro e a escravidão no Brasil a partir dos relatos de Domingo Sarmiento (em três viagens na segunda metade do século XIX), Manuel Bernárdez (em crônicas que vão de 1908 a 1922) e Roberto Arlt (na série Aguafuertes sobre seus dois meses no Rio de Janeiro). Suas impressões dialogam com questões caras aos estudos culturais e pós-coloniais no contexto latino-americano: o papel da escrita no estabelecimento das relações de subalternidade; a imposição de um discurso moderno hegemônico em oposição a formas de conhecimento das comunidades tradicionais e sociedades colonizadas; a enunciação unilateral daqueles que têm voz sobre os que não têm. A escravidão, como instituição anacrônica, e a abolição tardia são um tabu para os novos tempos republicanos e para a imagem do Brasil que os argentinos querem compartilhar. Ao mesmo tempo, o negro marginalizado e desterritorializado é parte indissociável da sociedade, e isso é evidente demais no cotidiano observado pelos viajantes. Como escrever sobre isso? O olhar do conquistador e do viajante como categorias e o conceito de alegoria em Walter Benjamin nos possibilitam evidenciar e compreender formatos de discursos e práticas que são apropriados para que relações de exploração e dominação se mantenham no contexto observado, conquistado.



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