Tamanho da fonte: 

O intelectual de fronteira precisa elaborar seu pensamento e agir de forma   desobediente, para fazer com que sua voz possa ser ouvida nos centros hegemônicos. Praticar a desobediência epistêmica é uma das condições inerentes aos saberes fronteiriços.  Este trabalho pretende discutir os conceitos de fronteira epistemológica e de memória subalterna a partir da leitura e discussão da obra teórico-ficcional do professor e intelectual de fronteira, Edgar César Nolasco. Nolasco teoriza seu discurso a partir da fronteira-Sul Brasil/Paraguai/Bolívia, definindo uma crítica pós-colonial a partir de suas memórias subalternas, como por exemplo, do pântano sanguinolento, cortado por uma dor incorrigível, feito um vento frio e afiado vindo do Sul, quando o urutau canta do outro lado da fronteira, tão próximo e tão distante, lonjuras em seu coração de homem-do-mato, de pântano suspenso por onde revoam os imponentes e misteriosos pássaros melancólicos, lugar que lhe permite atingir de forma bela e potente  sua poética bugresca advinda daquela fronteira-Sul, podendo exumar memórias subalternas, recriar histórias locais e revelar identidades até então escondidas por trás de equivocadas leituras advindas do centro hegemônico. A poética ficcional de Edgar Nolasco evidencia suas memórias subalternas, que se encontram na trilogia Pântano (2014), Oráculo da fronteira (2018) e A ignorância da Revolta (2019). As epistemologias fronteiriças são, por natureza, desobedientes e validam a reflexão acerca da exterioridade, que busca por uma revisão da crítica e da teoria pelo olhar de epistemologias outras.