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Afetos interditos: racismo e literatura na construção do amor e da família
Mariana Santos de Assis

Última alteração: 14-12-2020

Resumo


Historicamente a literatura sempre teve um papel determinante não apenas para registrar práticas sociais, mas também para consolidar ideologias e criar possibilidades de interação e práticas sociais. O amor tem sido tema recorrente nas mais diversas correntes literárias e suas diferentes representações nas obras literárias têm influenciado as práticas amorosas em todo o mundo. Diante disso, tentaremos aqui mostrar um pouco dessa importância, apontando algumas questões decorrentes, principalmente, do racismo presente nas produções literárias brasileiras ao longo da história.

As consequências das marcas do racismo na elaboração do conceito do amor bem como em suas práticas propostas na literatura são as mais diversas e, quase sempre, cruéis, no entanto, a população negra soube novamente se reinventar e inventar um amor nascido das cinzas da segregação e do preconceito. A literatura negra e negroperiférica é a maior prova disso e um registro vivo das redes de afeto e familiares criadas pela população negra, a despeito dos ataques dos séculos de escravidão e ódio brancos.

No presente artigo, mostraremos um pouco das contribuições da literatura hegemônica para a consolidação do racismo como base da nossa sociedade, destacando aquele que talvez seja seu aspecto mais assustador, a saber a tentativa de desumanização e extermínio por meio do apagamento de qualquer presença negra afetiva e familiar em nossa história literária.

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