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Cantos em náhuatl na Nova Espanha e contemporaneidade: Para outras perspectivas tradutórias
Sara Lelis de Oliveira

Última alteração: 14-12-2020

Resumo


Apresentaremos como cantos em náhuatl clássico foram traduzidos na colônia da Nova Espanha (séc. XVI) e na contemporaneidade (1940–) no âmbito dos estudos mesoamericanos. “Traduzir”, na análise que se propõe, diz respeito a conceitos empregados na interpretação dos cantos como manifestação cultural em sua forma oral e, posteriormente, em sua forma escrita após a estratégia evangelizadora de transliteração para a escritura latina que possibilitou sua “preservação” e tradução para outras línguas. Para tanto, será abordado o discurso do missionário Bernardino de Sahagún, no qual este aspecto cultural indígena foi traduzido para as concepções, categorias e valores próprios daqueles que desejavam conhecer o Outro para dominá-lo. Nesse ínterim, a tradução da cultura indígena foi limitada por premissas que, sob um princípio de universalidade, definiram a prática de se entoar cantos como idolatria. Na contemporaneidade, serão analisados os estudos críticos de Garibay e Bierhorst, tradutores do manuscrito Cantares mexicanos para o espanhol e inglês, cujas concepções divergem quanto a se os cantos eram ou não poemas. O objetivo da exposição consiste na relevância de rever os loci epistemológicos de produção de conhecimento dos referidos indivíduos que traduziram os cantos em suas formas oral e escrita, a qual é fundamental para propor um giro epistemológico a partir de nossa tradução do náhuatl clássico para o português. Trata-se de um projeto tradutório que almeja recontextualizar a oralidade dos cantos no texto escrito-traduzido a fim de transmitir experiências próximas a seu locuscultural empobrecido com a coerção colonial e com a escritura alfabética, bem como a compreensão indígena de suas próprias tradições. Entreviu-se, por meio da tradução, a possiblidade de realizar o referido projeto mediante o hibridismo presente Cantares, o qual aponta para um jogo de dominação e resistência inerente aos impasses de imposição de cultura e religião em uma sociedade de tradições milenares.


Referências


BERMAN, Antoine (1985). O albergue do longínquo. In: A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Tradução de Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan e Andréia Guerini. Rio de Janeiro: 7Letras; Florianópolis: PGET/UFSC, 2012, p. 19-31.

BIERHORST, John. Cantares mexicanos. Songs of the aztecs. Stanford: Stanford University Press, 1985.

Cantares mexicanos [manuscrito]. In: MS 1628 bis. México: Biblioteca Nacional de México, 85 f. Disponível em: https://catalogo.iib.unam.mx/exlibris/aleph/a23_1/apache_media/CNVT4T1JK3621B7RUDF8BISVU2EIXJ.pdf Acessado em: 20/04/2020.

GARIBAY KINTANA, Ángel María. Poesía Náhuatl. México: Universidad Nacional Autónoma de México, Instituto de Historia, Seminario de Cultura Náhuatl, 1965.

RÍOS CASTAÑO, Victoria. Translation as a conquest: Sahagún and Universal history of the things of New Spain. Iberoamericana, Vervuert, 2014. Edição Kindle.

SAHAGÚN, Bernardino (Frei) (1577). Historia General de las cosas de Nueva España. Edição com numeração, anotações, apêndices e paleografia por Ángel María Garibay Kintana. México: Porrúa, 2016.


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