Última alteração: 27-12-2018
Resumo
As relações entre Literatura e História são permeadas pela questão do caráter ficcional e também pela questão da construção narrativa, assim como pelo debate sobre o que confere a um texto o seu caráter ficcional ou histórico, assunto que envolve a questão da presença do real e do fictício em textos de ambos os campos. A literatura brasileira contemporânea segue a tendência da literatura ocidental, ao inserir-se num quadro que utiliza com bastante frequência da primeira pessoa narrativa, apresentando muitas vezes uma interface entre o real e o ficcional. Essa dimensão subjetiva do narrado propiciada pela primeira pessoa do relato possibilita uma série de reflexões sobre as relações entre memória, história, experiência e texto literário. O romance Outros cantos aborda questões como experiência, silenciamento, testemunho e memória da ditadura. Por apresentar a coincidência onomástica entre autora, narradora e personagem, além da presença de alguns traços biográficos da escritora Maria Valéria Rezende, podemos entender esta escrita de si enquanto uma narrativa de caráter autoficcional, que mescla elementos fictícios a elementos autobiográficos. Os estudos sobre as relações entre a escrita de si e a memória partem do referencial teórico proposto por Beatriz Sarlo, Diana Klinger, Silviano Santiago e Jeanne-Marie Gagnebin, dentre outros.
Palavras-chave
Referências
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006.
GAGNEBIN, Jeanne-Marie. “Entre moi et moi-même” (“Entre eu e eu-mesmo”). In: GALLE, Helmut, org. e outros. Em primeira pessoa: abordagens de uma teoria da autobiografia. São Paulo: Annablume, 2009.
KLINGER, Diana. Escritas de si, escritas do outro: o retorno do autor e a virada etnográfica. 2ª ed. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.
REZENDE, Maria Valéria. Outros cantos. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.