Última alteração: 02-01-2021
Resumo
Partindo da premissa que o cinema é campo do sintoma, constituindo-se como sistema comunicacional que dialoga (explicita e implicitamente – pelo dito e entre-dito) com a sociedade, o presente estudo se dedica a investigar e analisar como a intersecção entre as instituições ‘política e religião’ se dão a ver numa estética distópica no cinema nacional dos últimos anos no Brasil. Branco Sai, Preto Fica é um filme de Adirley Queiroz, lançado em 2015, após a conturbada reeleição presidencial de Dilma Rousseff em 2014, que tem o processo de impedimento iniciado no ano de estreia do filme e concluído em 2016. Divino Amor, por sua vez, é lançado pelo diretor Gabriel Mascaro em 2019, ano em que Jair Bolsonaro assume a presidência da república. O processo de oposição ao governo Rousseff até a eleição de Bolsonaro, é marcado pela presença religiosa, especialmente evangélica, no cerne do debate político. Esta homologação entre política e religião como resultante de políticas públicas e efeitos nos cotidianos do sujeito comum, alegórica e sintomaticamente, é experienciada (reiterada e criticada) no cinema brasileiro. Notemos, que essa experiência é transposta, em nosso recorte, por meio de um cinema distópico, em que as instituições religiosas aninham-se junto ao Estado como métodos de controle e, consequentemente, de poder. Assim, partindo dos sistemas simbólicos de Jean-Marie Floch (2001), analisando o plano da expressão em conformidade ao plano do conteúdo, consideramos que as estratégias fílmicas de Queiroz e Mascaro, envolvendo o contexto de produção e os efeitos de sentido, se conectam com as formas de vida (FONTANILLE; 2014), advindas de um estilo que é a representação semiótica das culturas por meio de um objeto, constituindo-se, portanto, as politicidades estéticas e estabelecendo-se uma comunicação em que a sociedade sente e se sente na tela.
Palavras-chave
Referências
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